segunda-feira, 9 de março de 2015

Por que um blog?

Deve ter sido essa a pergunta que as pessoas fizeram. 
E é a que me faço agora: Afinal, por que um blog?
Às vezes escrevo "coisas" no facebook. 
"Coisas" são as coisas que penso, sinto, reflito... 
O fato é que às vezes elas geram reações interessantes e inesperadas, como receber mensagens "in box" por exemplo. Interessante é que muitas vezes essas reações partem de pessoas que só conheço on-line.
Algumas pessoas me param na rua para dizer que adoram minhas mensagens e comentários de status, mas não comentam, nem curtem a postagem, principalmente se for relacionada à política.
Sendo assim, resolvi ceder à sugestão de uma amiga e escrever em um blog.
Se haverá leitores, isso eu não sei!
Sei é que passei boa parte da noite tentando educar as ideias que ficavam me perturbando e tirando o sono! Estou tentando organizá-las para tornar a leitura atraente. 
Espero que este não seja mais um dos meus fogos-de-palha! ( aqui merecia um "kkkkkkkkk", no entanto pretendo deixar o "internetês de lado, mantendo uma linguagem simples porém o mais correta possível em relação a uma escrita informal.) 
Como toda Mulher que se preze, tenho vários ângulos; então, a cada postagem, refletirei situações vividas por um desses ângulos. 
O que pretendo com isso? Por enquanto, apenas escrever o que sinto vontade, nada mais.
Talvez minha atitude de escrever não agrade a alguns amigos e até familiares, mas desculpem: não estou preocupada com isso! 
Hoje amanheci AMARELO... (Posteriormente refletirei sobre isso).


Obs: Escrevo em negrito e em letras maiores para que minha querida Yasmin Bougleux leia tranquilamente.




2 comentários:

  1. AUSÊNCIA
    Rio de Janeiro , 1935
    Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
    Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
    No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
    E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
    Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado
    Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
    Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
    Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado.
    Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face
    Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada
    Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite
    Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa
    Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço
    E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
    Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos
    Mas eu te possuirei mais que ninguém porque poderei partir
    E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas
    Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

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  2. Receita de mulher
    Rio de Janeiro , 1959
    As muito feias que me perdoem
    Mas beleza é fundamental. É preciso
    Que haja qualquer coisa de flor em tudo isso
    Qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute couture
    Em tudo isso (ou então
    Que a mulher se socialize elegantemente em azul, como na República Popular Chinesa).
    Não há meio-termo possível. É preciso
    Que tudo isso seja belo. É preciso que súbito
    Tenha-se a impressão de ver uma garça apenas pousada e que um rosto
    Adquira de vez em quando essa cor só encontrável no terceiro minuto da aurora.
    É preciso que tudo isso seja sem ser, mas que se reflita e desabroche
    No olhar dos homens. É preciso, é absolutamente preciso
    Que seja tudo belo e inesperado. É preciso que umas pálpebras cerradas
    Lembrem um verso de Éluard e que se acaricie nuns braços
    Alguma coisa além da carne: que se os toque
    Como o âmbar de uma tarde. Ah, deixai-me dizer-vos
    Que é preciso que a mulher que ali está como a corola ante o pássaro
    Seja bela ou tenha pelo menos um rosto que lembre um templo e
    Seja leve como um resto de nuvem: mas que seja uma nuvem
    Com olhos e nádegas. Nádegas é importantíssimo. Olhos, então
    Nem se fala, que olhem com certa maldade inocente. Uma boca
    Fresca (nunca úmida!) é também de extrema pertinência.
    É preciso que as extremidades sejam magras; que uns ossos
    Despontem, sobretudo a rótula no cruzar as pernas, e as pontas pélvicas
    No enlaçar de uma cintura semovente.
    Gravíssimo é porém o problema das saboneteiras: uma mulher sem saboneteiras
    É como um rio sem pontes. Indispensável
    Que haja uma hipótese de barriguinha, e em seguida
    A mulher se alteia em cálice, e que seus seios
    Sejam uma expressão greco-romana, mais que gótica ou barroca
    E possam iluminar o escuro com uma capacidade mínima de cinco velas.
    Sobremodo pertinaz é estarem a caveira e a coluna vertebal
    Levemente à mostra; e que exista um grande latifúndio dorsal!
    Os membros que terminem como hastes, mas bem haja um certo volume de coxas
    E que elas sejam lisas, lisas como a pétala e cobertas de suavíssima penugem
    No entanto sensível à carícia em sentido contrário.
    É aconselhável na axila uma doce relva com aroma próprio
    Apenas sensível (um mínimo de produtos farmacêuticos!)
    Preferíveis sem dúvida os pescoços longos
    De forma que a cabeça dê por vezes a impressão
    De nada ter a ver com o corpo, e a mulher não lembre
    Flores sem mistério. Pés e mãos devem conter elementos góticos
    Discretos. A pele deve ser fresca nas mãos, nos braços, no dorso e na face
    Mas que as concavidades e reentrâncias tenham uma temperatura nunca inferior
    A 37º centígrados, podendo eventualmente provocar queimaduras
    Do primeiro grau. Os olhos, que sejam de preferência grandes
    E de rotação pelo menos tão lenta quanto a da terra; e
    Que se coloquem sempre para lá de um invisível muro de paixão
    Que é preciso ultrapassar. Que a mulher seja em princípio alta
    Ou, caso baixa, que tenha a atitude mental dos altos píncaros.
    Ah, que a mulher dê sempre a impressão de que se se fechar os olhos
    Ao abri-los ela não mais estará presente
    Com seu sorriso e suas tramas. Que ela surja, não venha; parta, não vá
    E que possua uma certa capacidade de emudecer subitamente e nos fazer beber
    O fel da dúvida. Oh, sobretudo
    Que ela não perca nunca, não importa em que mundo
    Não importa em que circunstâncias, a sua infinita volubilidade
    De pássaro; e que acariciada no fundo de si mesma
    Transforme-se em fera sem perder sua graça de ave; e que exale sempre
    O impossível perfume; e destile sempre
    O embriagante mel; e cante sempre o inaudível canto
    Da sua combustão; e não deixe de ser nunca a eterna dançarina
    Do efêmero; e em sua incalculável imperfeição
    Constitua a coisa mais bela e mais perfeita de toda a criação inumerável.

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